PREPARATIVOS PARA A TRAVESSIA–MIAMI À BERMUDAS

 

Depois que voltamos de NY, tínhamos tarefas a cumprir antes de partir, lavar roupas, dar ordem no Andante, fazer compras de mercado para abastecer o barco de comida, fazer a saída dos EUA (documentos… papelada, passaporte) e acompanhar as previsões de tempo (que aliás, nosso amigo Manir, de Paraty, está com a missão de nos passar as previsões por SMS a cada 48h). Tudo feito… vamos para o mar novamente, depois de 46 dias parados em Miami. Que aliás foi bom demais!

Parada no posto para abastecer, o tanque de diesel do Andante comporta 170 litros, mas ainda levamos mais 200 litros em galões devidamente presos no convés. Não queremos ficar boiando ao sabor da calmaria se ela aparecer… Como diz o Marcão (Veleiro Allegro) – Barco à vela é uma maravilha, mas sem motor é uma merda! – Rsrsrsrsrs. Já pensou… com motor e sem diesel?

Como eu já disse anteriormente, o Fer adora partir… voltar para o mar, olha a cara de felicidade dele, os olhos chegam a brilhar. Enquanto eu já fico ansiosa por chegar, adoro as chegadas. Rsrs.

Miami agora é passado… um doce passado que entra pra história. Começamos a navegar margeando a costa e assim foi nas primeiras 120 milhas até passarmos o norte das Bahamas. A corrente do golfo que aqui é forte, nos empurrava com velocidade de 2 nós, chegamos à 9 nós de velocidade. Ao total serão 930 milhas que pretendemos cumprir em 7 dias.

Curtindo o visual, avistando a costa da Flórida.

Bem, vamos navegar no famoso e temido Triângulo das Bermudas, que é cercado por muitas histórias de desaparecimentos de embarcações e aviões que por ali passam. Muitas são as explicações para os fenômenos, mas até hoje nenhuma prova concreta do que realmente acontece dentro do triângulo que é formado pelos vértices, Porto Rico, Miami e Bermuda. São várias as suposições, magnetismo, OVINIs sequestradores, animais submarinos gigantescos, passagens para outras dimensões, enfim… existem também os que acham que tudo não passa de coincidência. Relatos de sobreviventes que por pouco não desapareceram na região, citam uma grande neblina que ofuscava a visão e faziam parecer que mar e céu eram a mesma coisa. Bem, se feu for falar sobre todas as histórias que cercam o Triângulo das Bermudas, só terminarei no final da viagem. O importante é… estamos de olho em tudo, na bússola, nos eletrônicos, no mar, no céu… vigiando sempre e seja o que Deus quiser.

A verdade é, iniciar a travessia de um oceano faz nosso coração bater mais forte, acredito que depois de concretizada será o nosso maior feito e teremos muito orgulho disso. Mas dá uma ansiedade…

Primeiro pôr-do-sol e comemoramos tomando uma taça de vinho. Nossa travessia está começando!

Depois de muito tempo de folga, voltamos a fazer turnos de 3 horas durante a noite. Ah… antes de sair tomei aquele remedinho milagroso (Meclin) e fiquei ótima, longe de marear. Que alívio!

Mais um entardecer e nada de vento, apenas uma brisa vindo de Nordeste, rumo que estávamos indo.

Outro entardecer e o vento insiste em não dar o ar da graça.

Calmaria… mar liso! Assim foram as primeiras 49 horas e o motor bem comportado, funcionando direitinho… Amém! O vento que antes era NE, rondou para Leste, com 15 nós, hora de levantar velas… acertamos o rumo e lá vamos nós, deslisando sobre as águas do Atlântico Norte, à 5 nós… tá bom, assim o motor descansa um pouco, mas só um pouco mesmo, porque depois de 4 horas o vento foi dimuindo, dimuindo, até que não deu mais… dá-lhe motor… o mar alisou de novo.

Enquanto isso, que tal pescar? Essa foi a última vez que o Fer viu essa isca que ele tanto gostava, o peixe que fisgou devia ser grande, porque tiramos rápidamente o motor e logo depois a linha estourou na carretilha e o peixão levou isca e linha… tudo embora! Acabou a brincadeira… e o Comandante ficou com cara de criança que perdeu o brinquedo… rsrsrsrsrs.

Na cozinha, muitas comidinhas gostosas, com o barco sem adernar fica fácil cozinhar.

Nesse dia o menu foi, “Fraldinha com Molho de Cebola e Queijo derretido”, um arroz branco e salada de tomate com pepino. Hummmm… tava bom!

Mais um colorido entardecer no meio do Oceano Atlântico. Na noite do dia 30/04, a lua estava coberta por uma camada de nuvens que filtrava a sua luz, o nevoeiro tomou conta do mar e era preciso forçar a visão para tentar visualizar algo e mesmo assim não se enchergava o horizonte. A ardentia era muito forte e iluminava tudo ao redor do Andante, como nós nunca tinhamos visto, a neblina permaneceu até as primeiras horas da manhã… era aflitivo e depois dos relatos sobre o triângulo, confesso que me causou um certo medo… aff! Ai meu Deus!

Bem, o dia amanheceu… e estamos aqui, são e salvos! Rsrsrs. Ah… a Márcia Pellicano também nos passou previsão do tempo por SMS.

Durante o dia, golfinhos brincalhões apareceram para nos fazer companhia…

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… é sempre especial ver esses bichos! Passamos um bom tempo na proa do Andante apreciando, chamando, interagindo com esses animais que parecem nos entender, é incrivel!

Antes eu achava essas grandes navegadas meio entediantes, mas acredito que era por que eu mareava e não conseguia me ocupar com nada, tudo que eu me metia a fazer… me causava enjôo, era um horror!

Agora a história é diferente, posso ler, no momento estou lendo “A Incrível Viagem de Shackleton”, trabalhar nas postagens do blog, cozinhar, eu e o Fer escutamos musica quase todo o tempo, conversamos muito, na verdade não sei onde arrumamos tanto assunto… ahahahahaha!

Durante todo o trecho foi assim, pouco vento, uma brisa, às vezes aumentava um pouco e o Fer corria para as velas, velejávamos um pouco e motorávamos bastante.

No dia 03/05, iniciamos a nossa aproximação de Bermudas, estávamos velejando agora, 7 nós, que delicia, mas só no ultimo dia. A partir de 30 mn do arquipélago, temos que chamar no VHF e avisar que estamos chegando, em inglês… rsrsrs comédia, o cara não entendia a gente e a gente não o entendia também, no rádio é fd… bem, nós avisamos! Ele já sabia que era um veleiro de bandeira brasileira e de nome ANDANTE que estava se aproximando… blz!

Terra à vista! Era o arquipélago de Bermuda… uauaua! Chegamos depois de 7 dias. É surreal imaginar que estamos aqui… mais uma vez temos que nos beliscar!

Chegamos com o céu bem fechado, um pouco de chuva e tivemos que tirar as roupas de tempo do armário. Na entrada do canal, um gigante insistiu em nos acompanhar, ai meu Deus! - Feeer!!! Esse navio vai passar por cima da gente! Mas ele entrou por outro canal… aff! Entrando na Baia de St. George’s, chamamos mais uma vez no rádio VHF e eles nos indicaram onde parar para fazer a entrada (documentos).

Enfim, em terra! Ficamos surpresos e felizes com a hospitalidade bermudense, pessoas amáveis, educadas e prestativas nos atenderam na Imigração e Aduana. Ótima recepção.

Depois dos papéis feitos, fomos autorizados a tirar a bandeira amarela e colocar a bandeira de Bermudas em nosso veleiro. Nosso maior trecho, foram 930mn, em 169 horas, das quais 126 no motor e 46 na vela… deu pra perceber a calmaria né!

Andante devidamente ancorado… merecido descanso… pra ele e pra nós!

Aí está o nosso trajeto.

Nós sobrevivemos ao Triângulo das Bermudas! Eheheheheh!